Inovação em Movimento no Musée International d'Horlogerie
- Nuno Margalha
- 1 de mar.
- 6 min de leitura

O Musée international d'horlogerie (MIH) apresenta Inovação em Movimento, uma exposição dedicada à espiral, peça fundamental na evolução da relojoaria mecânica. Assinalam-se desta forma os 350 anos da invenção de Christiaan Huygens, a mostra explora a origem, o impacto e as inovações tecnológicas associadas a este componente essencial. De exemplares históricos raros a avanços contemporâneos em silício, a exposição revela como a mola espiral transformou a medição do tempo e continua a influenciar a relojoaria moderna.

Em 1675, este relojoeiro neerlandês revolucionou a história da relojoaria ao revelar ao mundo uma mola em espiral capaz de conciliar precisão e portabilidade nos instrumentos de medição do tempo. A exposição Inovação em Movimento, apresentada pelo MIH e pela fundação neerlandesa Stichting Haegsche Tijd, explora as origens, os desenvolvimentos e as diversas aplicações desta invenção. Destaca ainda como a espiral lançou as bases da relojoaria moderna e se tornou um componente estratégico para a indústria relojoeira.
A exposição decorre sob o patrocínio da Embaixada da Suíça nos Países Baixos, da Embaixada do Reino dos Países Baixos na Suíça e da República e Cantão de Neuchâtel.
A inauguração pública, acompanhada por música neerlandesa de época interpretada pelo ensemble La Sfera Armoniosa, teve lugar na quinta-feira, 20 de Fevereiro, às 17h30, no MIH. A exposição ficará patente de 21 de Fevereiro a 22 de Junho de 2025, com horário de funcionamento de terça-feira a domingo, das 10h00 às 17h00.
A Grande História da Relojoaria Através do Prisma do Seu Mais Fino Componente
A exposição oferece uma visão histórica das inovações associadas à mola espiral, desde o século XVII até à actualidade, dividida em quatro secções.

A primeira secção aborda o contexto histórico, geopolítico e científico da Europa do século XVII, com foco nos Países Baixos e em França, onde Huygens realizou as suas principais investigações. Neste ambiente de efervescência científica e no seio da família Huygens, em Haia – recriado em realidade aumentada – surgiram as condições para a invenção da espiral como oscilador supremo da relojoaria mecânica.

A segunda secção apresenta a transição do pêndulo para a espiral, por forma a evidenciar os desafios económicos e geopolíticos da inovação técnica. A ambição dos Estados em dominar a navegação levou à corrida pela portabilidade e precisão dos relógios.

A terceira secção examina as propriedades técnicas da mola espiral, a sua composição, geometria e as limitações impostas pelas variações de temperatura e pelo magnetismo. Estes desafios estiveram no centro das investigações relojoeiras ao longo dos séculos XIX e XX, o que abrange a forma e os materiais utilizados, tal como a perícia dos artesãos e operários encarregues da fabricação e do ajuste das molas espirais.

A quarta secção foca-se no processo de inovação no século XXI, através da distinção de duas abordagens. Uma acerca da procura por melhorar o desempenho da mola espiral com novos materiais, como o silício. E outra que reavalia o percurso seguido pela relojoaria há 350 anos, por forma a explorar os osciladores alternativos baseados em princípios distintos.

Poderão estas novas tecnologias pôr fim ao domínio secular da mola espiral?
Uma Exposição de Referência com Contribuições de Vinte Instituições e Coleccionadores

Além da vasta colecção do MIH, cerca de vinte entidades privadas e institucionais contribuem para o conteúdo da exposição, tornando-a um evento de destaque no calendário relojoeiro de 2025. A mostra reúne um património relojoeiro excepcionalmente rico, no qual podem ser encontrados objectos raros, ferramentas industriais e arquivos inéditos que ilustram a evolução desta invenção fundamental.
São apresentados importantes exemplares históricos, muitos deles expostos pela primeira vez na Suíça, como um dos seis mais antigos relógios de mesa conhecidos do relojoeiro de Haia, Salomon Coster (1657), ou um relógio com mola espiral de Isaac Thuret (pouco depois de 1675), cedido pela colecção Planetarium Zuylenburgh.

Desde o Journal des Sçavans, que publicou em 1675 o primeiro desenho da mola espiral de Huygens, até às experiências modernas com silício e às ligas invariantes à temperatura, premiadas com o Prémio Nobel por Charles-Édouard Guillaume, a exposição percorre sucessivas inovações que aperfeiçoaram a mola espiral.

Para além destes marcos históricos, a mostra revela também as realidades industriais e humanas associadas à produção da mola espiral. Uma secção apresenta as ferramentas que permitiram a sua industrialização.

Fotografias e arquivos documentam o papel crucial das mulheres nesta cadeia de produção, em particular as régleuses, verdadeiras especialistas na conformação e no ajuste das molas espirais nos seus postos de contagem de espirais. Esta perícia, ilustrada com excertos do filme Unrueh/Unrest, de Cyril Schäublin, evidencia a importância do trabalho manual numa indústria que passou por um intenso processo de mecanização entre o final do século XIX e o início do século XX.

Por fim, a exposição lança um olhar sobre o futuro, apresentando novas alternativas tecnológicas que desafiam a hegemonia da mola espiral, como os osciladores monolíticos em silício, produzidos com processos de fabricação de altíssima precisão.

Ao reunir objectos raros e testemunhos industriais, Inovação em Movimento oferece uma nova perspectiva sobre três séculos e meio de evolução técnica.
As peças expostas permitem ao público compreender as origens históricas da mola espiral, as suas propriedades físicas e o seu desenvolvimento industrial contemporâneo, através de modelos de demonstração, protótipos, filmes e reconstruções históricas.
Uma Colaboração Internacional Frutífera
A Stichting Haegsche Tijd foi fundada em 2018 com o objectivo de criar um museu do tempo em Haia, dedicado aos instrumentos de medição temporal e às suas dimensões físicas, biológicas e filosóficas. Entre as suas principais actividades destacam-se a organização de conferências, exposições e excursões.
Foi neste contexto que a Stichting Haegsche Tijd propôs ao MIH o desenvolvimento de uma exposição temporária que, além da sua apresentação na Suíça, poderá futuramente viajar para os Países Baixos e outros países.
Destacando os laços históricos entre a Suíça e os Países Baixos no domínio da inovação, a exposição decorre sob o patrocínio conjunto da Embaixada da Suíça nos Países Baixos e da Embaixada do Reino dos Países Baixos na Suíça.
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