Série: GRANGES MARCAS
E história da Casa LeRoy
Por Sílvio Pereira
O relógio que vos trazemos nesta #quartadebolso, uma obra prima da engenharia, foi construído com um excelente bom gosto e requinte estético. É sem dúvida uma peça digna de museu.
No seu guarda pó constam as seguintes inscrições:
Leroy & Fils
Horlogers
114 e 115 Galie de Valois
Palais Royal / Paris
No 41325
O relógio pesa 92,2 gramas.
Tem um diâmetro do 4,5 cm.
E uma espessura total de 1,0 cm.
Leroy - Uma longa e rica história
A história da Maison Leroy é o resultado de uma sucessão de indivíduos brilhantes que deixaram sua marca na relojoaria de forma ininterrupta desde o século XVIII até à actualidade.
Inventores excepcionais e comerciantes visionários, os vários Le Roys conseguiram impor a sua assinatura ao longo do tempo como garantia de excelência e uma referência para a relojoaria francesa de luxo. Relojoeiro do Rei, do Imperador, da Rainha Vitória e da Marinha, Leroy atingiu a apoteose em 1900 com a apresentação, durante a Exposição Universal de Paris, do mítico “Leroy 01”. Até à data considerado o relógio mais complicado do mundo, este relógio estabeleceu definitivamente a marca no restrito clube da Alta Relojoaria.
DA RELOJOARIA DOS REIS AO ILUMINISMO
A história da Maison Leroy começa em 1747 quando Basile Le Roy, filho de um lenhador, iniciou aos 16 anos a sua aprendizagem como relojoeiro junto do mestre Joseph Quétin. Não tendo um ancestral relojoeiro, Basile optou por usar o nome de dois relojoeiros famosos, Julien Le Roy (1686-1759) e seu filho Pierre (1717-1785). Julien ficou conhecido por ter desenvolvido o primeiro relógio com ponteiro de segundos. O Seu filho, Pierre, é ainda considerado um dos pais da cronometria moderna. Os seus cronómetros de marinha foram um trunfo decisivo para a França na corrida em que as monarquias europeias se empenharam pelo domínio do tempo no mar, garantindo a determinação precisa da Longitude.
Em 1785, o filho de Basile Le Roy - Charles Le Roy, foi nomeado Mestre Relojoeiro aos 20 anos. Com a ajuda do seu pai, abriu uma loja e uma oficina sob as arcadas do Palácio Real que Luís IV de Orleans acabara de abrir ao público e comerciantes. A casa manterá este endereço durante mais de um século.
Em 1790, para escapar das atrocidades dos revolucionários, Leroy, cujo apelido poderia ser conotado com a realeza e, portanto, perigoso, assina as suas peças com o anagrama Elyor. Durante os anos seguintes de terror, acabou mesmo por fazer uma venda fictícia da sua empresa a um seu empregado Cachard, reavendo-a após terminar o conflito.
A partir de 1794, a qualidade dos relógios Leroy foi reconhecida por muitos homens influentes em Paris. Os últimos cinco anos do século selam permanentemente a reputação de Charles que mais uma vez assina Le Roy as suas produções (fortemente inspiradas pelas de Abraham-Louis Breguet) e participa da exposição parisiense de 1798. A Maison Le Roy torna-se uma das referências parisienses para a criação de relógios de bolso e de relógios de viagem, destinados principalmente a oficiais das campanhas napoleónicas.
RELOJOEIROS DO IMPÉRIO E DA COROA BRITÂNICA
Em 1805, Le Roy tornou-se “Horloger de l'Empereur” Napoleão I, “Horloger de Madame Mère”, assim como outros membros da família imperial e dedica-se a produzir relógios de altíssima qualidade, tradicionais ou decimais.
Por volta de 1810, a produção de relógios e relógios de viagem prevaleceu sobre as demais peças e para poder honrar suas encomendas, Le Roy desenvolveu colaborações com oficinas localizadas no Jura francês e na Suíça.
Em 1828, Charles-Louis juntou-se ao pai nos negócios da família que passou a chamar-se "Le Roy & Fils". Durante a primeira metade do século 19, a Casa desenvolveu-se a todos os níveis e chegou a ter quase 50 funcionários permanentes, por volta de 1840. A produção de relógios de bolso estava de volta com força e as oficinas tinham aumentado constantemente a complexidade de seus relógios, cuja reputação de excelência ia para além da francesa. O dinamismo de Charles-Louis atraiu para a sua empresa os melhores artesões da área, em particular Adrien Philippe, que trabalhou para a Le Roy antes de se juntar a Antoine Norbert de Patek em Genebra para fundar a Patek Philippe.
Em 1845, Casimir Halley Desfontaines comprou a empresa de Charles-Louis, cujos filhos não desejavam continuar na sucessão. A casa manterá o nome "Le Roy & Fils" durante os próximos dois anos e o novo proprietário regista várias patentes, uma das quais, revolucionária, diz respeito a um relógio eletromagnético que será apresentado na exposição de Paris em 1855.
Em 1854, Le Roy & Sons estabeleceu-se em Londres, primeiro na Regent Street, depois, numa segunda boutique, na New Bond Street, e em 1863 tornou-se “Relojoeiro da Rainha Vitória”. Sabe-se que por esta altura entregou uma grande quantidade de peças exoclusivas, por encomenda, para a corte inglesa. Presente em todas as exposições europeias, de Madrid a Viena e de Londres a Paris, Le Roy & Fils começou a coleccionar prémios e medalhas.
LOUIS LEROY - PAI DO LEROY 01
Em 1879, Casimir Halley Desfontaines contratou em Londres o jovem Louis Leroy, um relojoeiro convicto, de apenas vinte anos, cujo pai, Horloger de la Marine, era um ilustre fabricante de cronómetros. A chegada do jovem marcará o início do período de excelência absoluta da marca. Em 1888, após a morte de Casimir, seu filho assumiu o negócio e Louis Leroy tornou-se seu sócio antes de se tornar o único mestre e em 1889 transformar o nome da empresa em "L.Leroy & Cie, antiga casa de Le Roy & Fils".
Louis Leroy viaja muito; descobre que os relógios criados na Suíça já superam as produções francesas, por isso colabora com oficinas no Vallée de Joux onde compra caixas, escapes e às vezes até mecanismos completos que depois serão decorados, montados e instalados em Paris. Em 1892, para se aproximar dos seus fornecedores, abriu os “Ateliers L. Leroy” em Besançon, que era o coração e a alma da indústria relojoeira francesa na época, além disso, tinha sido acabado de inaugurar o Observatório Nacional e tal como o seu serviço de certificação cronométrica.
A empresa de Louis Leroy - na qual o seu irmão mais novo Léon ingressou em 1895 como sócio - conta com excelentes competências de pesquisa, desenvolvimento e produção e coopera com grandes nomes da relojoaria suíça, notadamente Louis-Benjamin Audemars e Charles Piguet.
Em 1899, L. Leroy & Cie abriu oficinas e loja em 7, Boulevard de la Madeleine. A casa passou a contar com uma clientela abastada, leal e de prestígio que apoiou o seu extraordinário desenvolvimento ao longo da primeira metade do século XX. Cabeças coroadas, artistas, industriais, políticos, filósofos e aventureiros são o que hoje chamaríamos de aficionados da marca: Franklin D. Roosvelt, Alfred Nobel, Antoine de Saint-Exupéry, Lindbergh, Louis Renault e Ettore Bugatti, Chopin, Strauss e Wagner , Georges Sand, Musset, Marcel Proust, Henri Matisse ...
O ano de 1900 foi decisivo para Louis Leroy que apresentou o Leroy 01. Grande Prémio da Exposição Universal de Paris, um verdadeiro ícone planetário. Este relógio único, encomendado expressamente pelo Luso-Brasileiro Monteiro dos Milhões, permanecerá a referência absoluta na relojoaria ultra-complicada até 1989, quando a Patek Philippe produz o seu Calibre 89.
コメント