No mundo da relojoaria diz-se que uma marca é independente quando, apesar de não produzir em massa, consegue ser independente na produção de algumas partes dos seus relógios. Há marcas com mais nível de independência do que outras. Normalmente as mais independentes, as que produzem praticamente 100% do relógio, produzem um relógio por ano, ou em vários anos. Outras abdicam de alguma independência e produzem mais relógios. Há portanto uma relação entre o nível de independência e o número de relógios produzidos.

O que torna os relógios Voutilainen tão especiais é que conseguem produzir 50 a 60 relógios por ano e, entre todo o processo de construção do relógio, apenas não produzem algumas peças do mecanismo. Para que esta relação entre o número de relógios e um elevado nível de independência seja possível, Karil Voutilainen adquiriu um conjunto de fábricas e ateliers, o que lhe permite fazer as suas próprias caixas de relógio, os seus mostradores, todos acabamentos incluindo o guilhoché e, claro, partes do movimento. Com este ecossistema tornou-se possível cumprir prazos de entrega, controlar a produção, e uma muito maior eficácia do departamento de investigação e desenvolvimento.
Na verdade quando alguém fica independente isso significa que se separou de outras pessoas, e portanto fica mais sozinho.
As marcas de relógios independentes separaram-se de fornecedores que não cumprem prazos, ou que não têm, pelo menos o mesmo ritmo de trabalho, ou que têm diferentes perspectivas sobre a qualidade do trabalho.
As marcas são independentes quando controlam o que se passa com os seus relógios do metal ao pulso.
Escolhemos marcas em vez de relógios genéricos porque isso poupa-nos tempo. Escolher uma marca significa confiar nos valores e princípios que lhe estão associados. Sabemos que as marcas são conhecidas por diferentes características, pela qualidade, pelo estilo desportivo, pelas complicações... Desta forma não temos de ser nós próprios a avaliar o que não temos conhecimento para avaliar. Escolher uma marca é confiar. Contudo, por vezes, as marcas confiam elas próprias nas marcas dos fornecedores, que confiam eles próprios nas marcas de outros fornecedores. A cadeia é demasiado longa, por vezes, para se conseguir garantir que os valores e princípios são respeitados. Talvez seja esta a razão pela qual as marcas independentes tenham ganho tanto terreno nos últimos anos.
Nos anos 50, 60 e 70 a relojoaria suíça não tinha marcas independentes.
Poderia considerar-se que toda a relojoaria suíça era uma grande marca independente.
Havia um conjunto de empresas que construíam os diferentes componentes do relógio no próprios país. Todos unidos em torno de entidades como a Indústria Relojoeira Suíça que garantia que todos os relojoeiros no mundo recebiam a formação necessária para reparar os relógios suíços. Com a globalização este estilo de funcionamento tornou-se impossível, e aí surgiram os grandes grupos de marcas aglomeradas, tal como, por oposição, as marcas independentes.
Em Portugal podemos seguir qualquer um destes dois caminhos: podemos unir as empresas que trabalham na área da relojoaria ou incentivar a criação de marcas independentes. A produção de relógios em Portugal é possível, mas não tem necessariamente de depender 100% de empresas portuguesas, o que, de qualquer forma, também não seria possível neste momento. Seja como for, é altura de afastar os Velhos do Restelo e meter mãos à obra.
O IPR apoia todos os que decidirem construir a sua própria marca ou todos os que necessitem de serviços de relojoaria.
Caso não seja possível prestá-los directamente, recomendamos os fornecedores necessários, basta entrar em contacto connosco. Mas pode começar por assistir à conferência de relojoaria com Kari Voutilainen que decorre hoje às 16h, no Museu Medeiros e Almeida.
Comentarios