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Foto do escritorCarlos Torres

Roger Smith Nº2 presente no leilão da Phillips em Nova Iorque


Detalhes do mostrador do Number Two @ Roger Smith

Trata-se de um relógio de bolso que representa uma conquista histórica na relojoaria. É que a obra-prima de Smith é, de certa forma, também a pedra angular do renascimento da relojoaria inglesa do século XXI. A peça única deverá ser vendida no leilão “The New York Watch Auction: EIGHT”, e está avaliada em mais de US$ 1 milhão.


Com apenas 22 anos, Smith apresentou-se a George Daniels, amplamente considerado o maior relojoeiro do século XX, com o seu primeiro relógio de bolso artesanal na esperança de garantir um ambicionado período de aprendizagem no atelier do mestre. Mas Daniels não pareceu ficar satisfeito, explicou que por ter sido feito à mão, um relógio não tem de parecer que foi feito à mão, e aconselhou o candidato a aprendiz a regressar a casa e a começar de novo.

Sem se deixar atemorizar, Smith passou os cinco anos seguintes a aperfeiçoar o seu segundo relógio de bolso, agora com calendário perpétuo e turbilhão, antes de o apresentar novamente a Daniels. Desta vez ao examinar o relógio, Daniels não hesitou e disse-lhe:


“agora és um relojoeiro”, aceitando-o como o único aprendiz que alguma vez teve.

Sem a conclusão deste relógio e a aprovação por parte de George Daniels, a Roger Smith como marca criadora independente não existiria. Estimado em mais de US $ 1 milhão, o relógio será incluído no The New York Watch Auction: EIGHT a decorrer de 10 a 11 de junho na 432 Park Avenue, após um tour global que passará por Londres, Singapura, Los Angeles, Genebra e Hong Kong.


Frente do Number Two @ Roger Smith

Segundo Paul Boutros, chefe do departamento de relojoaria da Phillips para as Américas, e que aqui se deixa entusiasmar atribuindo à peça de Smith um patamar de relevância de destaque:

«O relógio de bolso número dois de Roger Smith simboliza um momento de ‘make or break‘ para o próprio Smith e, posteriormente, para toda a relojoaria inglesa contemporânea. Foi com este relógio que ele se tornou o único aprendiz de George Daniels, literalmente ungido para continuar o legado de Daniels para além da sua vida. A meticulosa criação ao longo de anos do Number Two é uma prova do foco absoluto e da perseverança de um homem em busca do ofício escolhido. Trata-se, sem dúvida, de um dos relógios mais importantes e impressionantes feitos por qualquer relojoeiro ou marca independente contemporânea e, consequentemente, um dos relógios mais importantes do mundo. Estamos ansiosos para partilhar este notável e célebre relógio com a nossa comunidade ao redor do mundo.»

Aos 16 anos, Roger W. Smith, OBE, inscreveu-se para ter aulas de carpintaria ou de relojoaria, tendo sido aceite primeiro em relojoaria, no que foi o início da sua carreira. No seguimento de uma palestra durante o seu último ano na Manchester School of Horology, apresentou-se-lhe a oportunidade de encontrar George Daniels pela primeira vez, após o que ele escreveu ao mestre pedindo para ser aceite como aprendiz. Apesar de este pedido lhe ter sido negado, Daniels convidou Smith para o visitar na sua oficina.


Com a audácia e o destemor próprios da juventude, Smith instalou-se na garagem dos pais e entregou-se à criação, totalmente à mão, do seu primeiro relógio de bolso, que envolveu nada menos que 18 meses de trabalho. Tratava-se de um relógio de bolso com turbilhão, escape de detent e duplo tambor de corda. Mas quando finalmente apresentou o seu trabalho a Daniels, a recepção não foi positiva. “Não está à altura” foi o veredicto, dando a Smith a oportunidade de tomar contacto com o chamado método Daniels: o de que os relógios devem parecer “criados à mão” e não apenas “feitos à mão”. Eram pois necessárias melhorias e refinamentos adicionais. Mesmo assim, Smith regressou a casa determinado a tentar novamente e desta vez a não falhar.

Entre 1992 e 1997, Roger Smith dedicou-se de corpo e alma a este segundo relógio de bolso, ainda mais complicado do que a sua primeira tentativa com a adição de um calendário perpétuo. Cada componente do relógio foi criado à mão pelo próprio Smith. Mas sempre que o relógio estava quase pronto, Roger era confrontado com uma qualidade de execução superior dos últimos componentes terminados, vendo-se obrigado a refazer todo o trabalho anterior.

Foram cinco as vezes que o aprendiz de relojoeiro refez integralmente o seu relógio de bolso, temperando e refinando cada elemento individual até pelo menos onze vezes. Finalmente, os seus esforços chegaram a um ponto em que se sentiu satisfeito com o resultado.


Roger Smith em sua Oficina na Ilha de Man, década de 1990 @ Roger Smith


Alojado numa impressionante caixa de ouro de 18 quilates feita à mão, e medindo 66,5 mm de diâmetro, estava na hora de apresentar o relógio a Daniels. Daniels inspecionou cuidadosamente o relógio e perguntou quem tinha executado cada um dos componentes. A cada pergunta, Smith respondia “fui eu”. No final, Daniels tinha-se rendido. “Agora és um relojoeiro.” Durante as suas seis décadas como relojoeiro, Daniels teve apenas um aprendiz: Roger Smith. Pouco depois de aprovar o Number Two, Daniels ligou para Smith e pediu que o ajudasse a completar uma série especial de relógios de pulso para comemorar o escape coaxial recentemente adotado pela Omega. Um trabalho que resultaria na série Millennium.


Verso do Number Two @ Roger Smith

Assim que esta ficou concluída, em 2001, Smith decidiu partir e estabelecer-se por conta própria e criar o seu próprio relógio de pulso. Com a morte de Daniels em 2011, Roger Smith herdou a sua oficina na Ilha de Man, assim como a produção atual e as necessidades futuras de manutenção de qualquer Daniels, fosse de pulso ou de bolso.

Mais do que apenas um herdeiro deste verdadeiro trono, Smith dedicou-se também a promover a causa da relojoaria britânica contemporânea nas últimas duas décadas. Em 2013, Roger Smith foi convidado para fazer parte da campanha GREAT Britain, mostrando o esplendor e a inovação da relojoaria britânica contemporânea.


Colocado lado a lado com o capítulo da Relojoaria de Daniels sobre caixas e mostradores maquinados ou guilhoché, com o Number Two Smith procurou claramente experimentar todos os tipos de acabamentos possíveis descritos no livro.

Abaixo do mostrador encontra-se o escape de retenção de mola impulsionado por um duplo tambor de corda e a carruagem do turbilhão. Ao contrário da relojoaria suíça, não há anglage ou Côtes de Genève presentes no movimento. Em vez disso, o movimento é criado a partir de uma única peça de latão que primeiro recebe um tipo de acabamento distintamente inglês, chamado “frosting”, e que depois é imersa num banho de ácido e devidamente dourada. O acabamento dos bordos é reto, em vez de curvo. O mecanismo de corda está escondido, de maneira a que, quando o relógio é aberto para se observar o movimento, o espectador apenas consiga ver os componentes mais impactantes.

No total, Roger Smith fez apenas três relógios de bolso. O seu Relógio de Bolso Número 1, considerado insuficiente por George Daniels, foi desmontado e dele resta apenas o movimento, ainda na oficina da Ilha de Man. O Relógio de Bolso Número 3, feito por encomenda, permanece em mãos privadas. O presente Number Two permaneceu na posse de Smith até 2004, quando foi vendido a um privado para financiar o lançamento da sua marca homónima.

No dia 13 de abril, o Number Two fará a sua estreia pública durante a exposição de Londres do tour programado para o The New York Watch Auction: EIGHT, e onde Smith fará parte de um painel de discussão que irá discutir esta obra.


Roger Smith com George Daniels, 2000 @ Roger Smith


Leilão: 10 a 11 de junho de 2023 em Nova Iorque


Para mais informações sobre a Phillips e este leilão clique aqui.

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