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Foto do escritorCarlos Torres

Zeitwerk da A. Lange & Söhne - a saltar desde 2009!


Traduzir a palavra “Zeitwerk” do alemão para português não é uma tarefa fácil. Se “Zeit” é quase do domínio comum, e significa tempo, “Werk” já tem um pouco mais que se lhe diga. É que o termo tem múltiplos significados, e todos encaixam que nem uma luva quando olhamos para os modelos que a A. Lange & Söhne tem produzido desde 2009 nesta linha de nome epónimo. Sem sermos demasiado precisos, “Werk” pode significar “fábrica”, o local onde se fabrica; “Werk” pode significar a “obra” de um mestre, seja na pintura ou mesmo na relojoaria, duas formas de arte como hoje a entendemos; e “Werk” pode ainda significar “mecanismo”, a palavra que mais rapidamente associaríamos a um relógio mecânico.


2022 marca a chegada da segunda geração do Zeitwerk @ A. Lange & Söhne


“Zeitwerk” pode assim significar “Fábrica do Tempo”, “Obra de Arte do Tempo ou “Mecanismo do Tempo”, a que se acrescentaria ainda “Máquina do Tempo”, sem entrarmos no domínio da excelente ficção cientifica de H.G.Wells. Há que admitir, os alemães têm jeito para as palavras. De uma só assentada, e com recurso a 8 letras apenas, levaram-me a consumir dois parágrafos do vosso tempo sem sequer revelar que a manufactura de Glashutte apresentou recentemente a sua última iteração da linha Zeitwerk, que apelida de “a Segunda Geração” deste modelo digital mas com coração mecânico. Segunda Geração? Se a A. Lange & Söhne descreve desta forma o seu novo Zeitwerk, então a evolução e o aperfeiçoamento não podem ser aspectos de pormenor.

O novo Zeitwerk @ A. Lange & Söhne


Mas antes uma brevíssima síntese (perdoem-me a redundância) do Zeitwerk original, e que há quase 14 anos espantou verdadeiramente o mundo da alta relojoaria. Regressemos, pois, ao Zeitwerk original e á inspiração que lhe deu origem sem esquecer a magia mecânica de que ele é capaz.


O relógio de 5 minutos da Ópera de Semper em Dresden @ A. Lange & Söhne


A inspiração para a criação do Zeitwerk, veio do famoso relógio de cinco minutos instalado por cima do palco da Ópera Semper de Dresden. Na época em que foi construído, o relojoeiro da corte, Johann Christian Friedrich Gutkaes, foi contratado para desenvolver uma indicação de tempo que fosse facilmente legível, mesmo nos lugares mais recuados da magnifica sala. O espaço não permitia um relógio de grandes dimensões o que obrigou Gutkaes a encontrar uma solução inovadora para a época: um relógio que mostrava a hora digitalmente em passos de cinco minutos. Em 1841, Gutkaes termina o relógio com o auxilio do seu colega de trabalho Ferdinand Adolph Lange. Passados 168 anos, a ideia invulgar deste relógio foi transposta para o Zeitwerk, ainda que este tenha uma cadência cinco vezes maior do que o movimento que o inspirou, ou seja, avança um digito a cada minuto.



Zeitwerk Ref. 142.031 @ A. Lange & Söhne

O Zeitwerk possui um mecanismo patenteado com três discos de números saltantes. As horas e os minutos são apresentados da esquerda para a direita através de números de grande formato com 2,9 milímetros de altura por 2,3 milímetros de largura, e contribuem para uma legibilidade excepcional. O mecanismo alterna os três discos numéricos – um para as horas, os outros dois para as unidades e para as dezenas dos minutos – em frações de segundo .



O mecanismo dos discos do Zeitwerk (esquema de 2009) @ A. Lange & Söhne

Para criar esta indicação fascinante, a Lange encarou de frente o desafio de encaixar o mecanismo nas reduzidas dimensões de um relógio de pulso, fornecendo-lhe ao mesmo tempo energia suficiente para executar as diversas etapas de comutação sincronizada. Basta pensarmos que o disco da horas tem um diâmetro de 30,0 milímetros e se estende até a circunferência externa do movimento. Para além disso, existem outros dois discos - o disco das dezenas de minutos e o disco das unidades de minutos, com diâmetros de 19,0 e 12,7 milímetros, respectivamente. Ambos estão separados em altura por uma diferença de apenas 0,2 milímetros, o que não facilita em nada a tarefa do relojoeiro.


O disco das dezenas de minutos sobreposto ao disco dos minutos @ A. Lange & Söhne

A este respeito, o Diretor de Desenvolvimento de Produto, Anthony de Haas explica que “o movimento requer muito mais energia do que um relógio de indicação clássica. Os discos não só são muito pesados ​​para os habituais padrões da relojoaria, como também necessitam de ser acelerados e travados rapidamente. Isto exige forças consideravelmente maiores do que apenas a rotação uniforme de um par de ponteiros com um peso muito menor. O maior dispêndio de energia dá-se no final da hora,

quando o movimento avança os três discos ao mesmo tempo.”



Para além deste aspecto de difícil execução, cada mudança de digito deve ser executada precisamente após 60 segundos. Trata-se de uma operação extremamente difícil de executar e que é controlada pelo escape de força constante, também ele patenteado.


E se olharmos para a sucessão de calibres utilizados pela A. Lange & Söhne no Zeitwerk, podemos perceber que entre 2015 e 2017, ou seja entre o Zeitwerk Minute Repeater inaugural e o Zeitwerk Decimal Strike Honeygold, a marca deu um salto na nomenclatura ou numeração que atribui a estes calibres. Após o Calibre L043.1, 2, 3, 4 e 5, a Lange salta directamente para o Calibre L043.7 do Zeitwerk Decimal Strike Honeygold, a que se sucede o L043.8 do Zeitwerk Date.

2009 - L043.1 Zeitwerk
2011 - L043.2 Zeitwerk Striking Time
2011 - L043.3 Zeitwerk Luminous
2012 - L043.4 Zeitwerk Handwerkskunst
2015 - L043.5 Zeitwerk Minute Repeater
???? - L043.6 ????
2017 - L043.7 Zeitwerk Decimal Strike Honeygold
2019 - L043.8 Zeitwerk Date

Ou seja a Lange salta uma referência de calibre entre 2015 e 2017. O que terá então acontecido ao L043.6? É precisamente este Calibre que a Lange apresenta agora, e que apelida de Segunda Geração do Zeitwerk, permitindo-nos especular que o novo calibre começou a ser desenvolvido em 2016. A casa de Glasshutte necessitou assim de 6 anos para desenvolver esta nova versão, ou esperou 6 anos para a apresentar?

Mas o que acrescenta este calibre L043.6 ao L043.1 e ás suas 7 patentes (os restantes calibre apresentam complicações adicionais ou uma decoração distinta) que deu origem ao primeiro Zeitwerk em 2009? Justifica-se apelidá-lo de 2ª Geração? Não se tratará apenas de uma evolução?


Zeitwerk Ref. 142.031 @ A. Lange & Söhne

Voltemos novamente à segunda geração do Zeitwerk, e do que ele promete. Comecemos pela reserva de marcha, que o L043.6 duplica em relação ao que o L043.1 era capaz. Uma característica que se deve essencialmente ao design patenteado do tambor que integra agora duas molas principais, projectando a autonomia original de 36 para 72 horas. E se recorrermos a outra métrica, ficamos a saber que a segunda geração do Zeitwerk é agora capaz de efectuar 4,320 saltos, ou seja 72 saltos com os três discos em simultâneo, 360 saltos com apenas dois discos e 3,888 saltos com apenas um disco. É muito salto...


A coroa às 2H e o novo botão de correcçao ás ás 4H @ A. Lange & Söhne

Uma outra evolução do Calibre L043.6 em relação ao L043.1, é a forma simplificada como agora se pode acertar a hora. Um “poussoir” às quatro horas permite no novo modelo avançar separadamente a indicação, o que se torna particularmente útil em viagem e quando se atravessam fusos horários distintos. O botão é do tipo “invertido”, ou seja, nada acontece quando é pressionado, mas a indicação avança quando o mesmo é libertado. A integração de um botão destinado a corrigir a hora, introduzido originalmente pelo Zeitwerk Date em 2019, requeria um esforço de construção e assemblagem considerável. De forma a permitir a correcção independente dos ciclos de mudança da indicação do tempo, uma embraiagem vertical patenteada desengata o mecanismo do disco das horas de cada vez que o botão é pressionado. O acerto da indicação dos minutos, para trás ou para a frente, continua a ser efectuada pela coroa posicionada ás duas horas.


O tambor de corda do calibre L043.6 com mola dupla @ A. Lange & Söhne


Dos 388 componentes em 2009, o calibre do Zeitwerk passa para 451 componentes. São nada menos que 63 componentes adicionais. Curiosamente, dos 66 rubis do Calibre L043.1, o L043.6 da segunda geração perde 5 para um total de 61. Os 33,6 mm de diâmetro mantêm-se inalterados, mas a segunda geração encolhe a espessura do movimento de 9,3 para 8,9 mm. Uma redução que permite à espessura da caixa passar consequentemente de 12,6 para 12,2 mm, enquanto que o diâmetro se mantem inalterado nos 41,9 mm.


O mostrador subsidiário de segundos do novo Zeitwerk é agora maior @ A. Lange & Söhne


E depois temos alterações de pormenor, mas que não devem ser desconsideradas quando sabemos que nestas coisas da relojoaria, são os detalhes que fazem as diferenças. A ponte central em prata alemã, que marca presença sobre o mostrador, concede agora mais espaço á indicação subsidiária de segundos posicionada ás seis horas.


A indicação de corda restante do novo Zeitwerk agora com "red line" @ A. Lange & Söhne

A escala da indicação da reserva de marcha, tem agora as últimas 12 horas marcadas a vermelhos, indicando claramente que a tensão da dupla corda principal está a chegar a um ponto critico.


O novo Zeitwerk Ref. 142.031 em ouro rosa e a Ref. 140.025 em platina @ A. Lange & Söhne

Finalmente, o novo Zeitwerk está disponível em duas versões: ouro rosa com mostrador negro e ponte central em prata alemã não tratada, e em platina com mostrador em prata maciça com acabamento a Ródio. A ponte central foi igualmente coberta com Ródio, mas neste caso de cor negra.



É pois tempo de revisitarmos a questão com que iniciámos este olhar sobre o novo Zeitwerk da A. Lange & Söhne. As diferenças apresentadas pelo calibre L043.6 justificam que seja apelidado "de 2ª Geração"? Apesar de a Lange não nos dar acesso a toda a informação de que gostaríamos, um olhar atento ás imagens dos calibres de 2009 e de 2022 parecem responder sem grande margem para dúvida a esta questão.



O calibre L043.1 original comparado com o L043.6 da segunda geração @ A. Lange & Söhne


As alterações visíveis são efetivamente de monta e conjugam-se de uma forma em que a evolução a que o movimento foi sujeito, transcende largamente o simples ajuste ou acerto de sistemas. O L043.6 é uma evolução da espécie embora as alterações apenas se possam percepcionar com maior ênfase quando viramos o relógios e observamos o universo relojoeiro que se expande por debaixo do cristal de safira. Como tem vindo a ser hábito com tudo o que sai da manufatura de Glasshutte, a Lange convence e não desaponta.


Os novos Zeitwerk são vendidos exclusivamente nas Boutiques da marca. O preço destes modelos tende a obedecer à velha máxima do Banqueiro Pierpont Morgan, "se necessita de perguntar.....". Mesmo assim, e para mais informações, visite a A. Lange & Söhne aqui.

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1 Comment

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Flávio Nara
há 2 dias
Rated 5 out of 5 stars.

Excelente artigo.

Parabéns!

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